Ele é aquele que até pode se desequilibrar mas nunca cai... Lírico t.c.c Troglodita Verbal t.c.c Porta-voz do Maculusso t.c.c O Fresco do Momento, mais fresco que nunca após o lançamento do 2º Volume da Mixtape “O Especialista”, trazemos esta entrevista com Abdiel, numa cortesia da suspeita do costume... Miss Djei.
LHH: Quando e como surgiu o seu interesse pelo hip hop?
Abdiel: foi por volta de 95/96, os Fugges tinham acabado de lançar o álbum, havia um vizinho que tinha o cd e falava muito sobre eles. Então comprei também ouvi e explorei esse álbum até ao tutano. Havia também um programa na LAC que por vezes passava o álbum inteiro de um artista. Nessa altura, gravei em cassete o segundo álbum do Nas, gravei “All eyes on me” do Tupac, assim como o 1º álbum do Snoop Dogg, ouvi e desde então ganhei o gosto. Ia tentando fazer umas rimas de leve.
Depois disso, fiz parte do grupo “Garotos Furiosos”, da terra nova, formado por mais ou menos 7 pessoas. Eu era o menos profissional, estava nisso há muito pouco tempo. Talvez por esse motivo decidi aperfeiçoar o game. Ouvi muito SSP, Gabriel o Pensador, e o primeiro álbum dos Black Company. Tudo o resto foi consequência.
LHH: Com todo este tempo no movimento, pode fazer uma analogia entre o rap daquela altura e o actual?
Abdiel: Relativamente ao rap de antes, não havia tanta falsidade. Falar de rap hoje, é falar de magalas, sorrisos falsos, ratos (mordem e sopram). Antes havia realmente movimento, haviam os shows, o Miguel Neto na LAC apresentava hip hop com uma certa frequência.
Haviam os freestyles, com Click LV, Bob da Rage Sense, Raf Tag, Shunoz. Hoje, os rappers olham pra um determinado artista tentando se identificar com algo que ele diga ou faça, atiram “dicas” em direcção a ele por vários motivos: pra provocarem beefs, ganhar atenção das pessoas, enfim. Quando são confrontados negam, dizem que não o fizeram, enfim, conversa da treta.
Em suma, antes havia movimento hip hop, hoje apenas existe hip hop e o único local onde se pode ver isso ao vivo é no Bahía (Ecletismo Poético). Existem alguns bons rappers, só que procuram problemas, antes as coisas não chegavam a certos extremos.
Hoje também há mais facilidades no lançamento de obras discográficas, antes não existia isso ou nós é que não sabiamos. As coisas eram feitas por amor, hoje são mais pelo dinheiro. Eu faço pelos dois (60% por dinheiro e 40% por amor)
LHH: Quais são os principais condimentos para ser um bom Mc?
Abdiel: Em 1º lugar o Mc tem que ser verdadeiro, no sentido de abraçar e defender os seus ideais até o último reduto. Se ele fizer som de festa, que faça até a morte, se for underground, que o seja até a morte. Aproveito pra dar um shout out ao Big Nelo, ele defende aquilo em que acredita.
Em 2º tem que haver entrega, dedicação, o Mc tem que ter convicção. Mesmo que seja mentira o que ele disser, tem de o fazer de maneira que quem ouça acredite.
3º Tem que ser autêntico, ser mesmo único.
E tem que saber rimar, perceber de mêtrica, todos os tipos de rimas: as cruzadas, interpoladas, brancas, emparelhadas.
LHH: Já agora, quem é o seu Mc favorito?
Abdiel: internacional: Great HOVA. Nacional: Eu.
LHH: E produtor?
Abdiel: dos nacionais Mad Contrário, Bu Square, Baby Macho, LC, Rap Boy, NK, F2, Tucho. A nível internacional gosto do trabalho do Swizz Beatz, Timbaland, Bangladesh, Dark Child, Just Blaze, Dr. Dre, Pollow the Don e Dj Premiere.
LHH: Porquê que não está filiado a nenhuma label?
Abdiel: Em 1º lugar porque acho que as labels tiram o protagonismo do artista, depois, acho que não há quase nenhuma label aqui no verdadeiro sentido da palavra. O que há são alguns indivíduos que reuniram condições para abrir um estúdio, reuniram amigos e amigos dos amigos que gostam de hip hop, mas só como passatempo, o profissionalismo é quase nulo.
Há alguns dias, numa conversa com o Young D, ele focou um ponto que eu nunca tinha pensado. Pra uma label, se o disco de um artista bate na rocha ou não atinge a proporção que podia alcançar, pra eles é só mais um disco de um artista. Depois eles pegam noutro artista e começam algo totalmente diferente com esse segundo, e o primeiro simplesmente esquecido.
LHH: O lançamento dos 2 volumes da mixtape “O especialista”, foi de certa forma uma preparação para o álbum “Sob escuta”?
Abdiel: Não de todo. O álbum vai ser muito diferente daquilo que o pessoal está habituado a ouvir do Abdiel, será sempre na linha hip hop mas sem falar muito de rap, o álbum é para quem gosta de música, terá um pouco de hip hop actual, ao estilo Timbaland mas será também electro e nele vou falar mais para as senhoras. Digamos que o especialista foi um exercício de rap, há instrumentais que gosto e nos quais gostaria de cantar e é isso que eu faço nas mixtapes. Em alguns baseio-me nas músicas originais, em outros nem por isso.
Aproveito pra informar que “O Especialista” vai até ao volume 10, o 3 já está pronto e desta vez terá capa (rsrsrs).
LHH: Por falar em senhoras, quem ouve e conhece os sons do Abdiel, pode dar-se conta que aborda sempre as mulheres de uma maneira um tanto bruta, seca, com expressões que podem ofender a moral femenina (“Eu não maio, eu tch***).
Abdiel: Sobre as mulheres, essa expressão não quer dizer que eu vou com qualquer uma, não sou mesmo fácil. Mas também não descrimino: gorda, chinesa, albina, tetraplégica, pra mim mulher é mulher desde que tenha uma áurea que me faça querer estar com ela, pois o que pra mim é água, pra outros pode ser vinho.
Mas de facto algumas senhoras têm comportamentos indecorosos, passando por desfrutáveis aos olhos da sociedade. So sei que agora existe “muita gaja” e “pouca dama”. Se não for moda, festas, novelas, motas e fofoca, o quê que essas raparigas andam a fazer pra além de “coisas feias”?Se andarem de 1 a 31 com a mesma pessoa, tudo bem. Agora, se 1 a 31 forem pessoas diferentes, isso sim fica feio.
LHH: Que participações traz o álbum “Sob escuta”?
Abdiel: Bem, no microfone teremos Vui Vui Duval (dos Kalibrados), Dji Tafinha, Corleone (dos Absolutos), Lil Jorge, Lukeny Pitchula, Sara, Mad Contrário e nesse momento estou a tentar conciliar o tempo pra ter também a Pérola e o Erick Shine.
LHH: Ainda acerca da preparação do álbum, quais são as expectativas?
Abdiel: quem tem expectativas são as mulheres e as crianças. Eu tenho uma meta a alcançar e usarei todos os meios bons e não tão bons para alcançar o fim. Por outro lado, o álbum traz músicas fixes e músicas muito fixes, que não deixarão de ser imprescindíveis e indispensáveis para quem gosta de ouvir bom rap em português. Os atrofios estarão mas sem palavrões e os demónios estarão soltos.
LHH: Além disso, está envolvido em outros projectos?
Abdiel: sim, nomeadamente a criação de outras mixtapes, quero usar instrumentais nunca antes usados, com beats de produtores da banda. Não vou chamar de mais um álbum porque não vou trabalhar nele como se fosse pra o álbum. To a trabalhar a 110% no álbum do Corleone (Absoluto) e na 1ª Mixtape oficial dos Absolutos com o Corleone e o Ruzenox.
LHH: Quando não está a a dropar está...
Abdiel: - A pensar em dropar
- A namorar
- A ter e a resolver probelas com a minha senhora
- A viver em grande com os meus cientes no alvalade, não na banda, no Hotel
- To na rua atrás do kumbú (80% do meu tempo)