Recent Posts

.
.
.

21 de out. de 2009

Entrevista de Ikonoklasta ao Site HipFlickz[Em 2004]



Entrevista um tanto antiga[5 anos atrás], mas mesmo assim não deixou de ser interessante.

Ikonoklasta falando um pouco de si, do seu Rap, do beef que teve com Raf Tag e outras cenas mais...

Peguei a cena no blog CabMusic, mas já havia lido ela a muito tempo no site Hipflickz.net, que acreditou eu que foi o primeiro site de HipHop angolano...

Mesmo sem receber actualizações, visitava a cena e ainda me rendeu alguns posts, mas infelizmente neste momento o site encontra-se fora do ar.
Espero que a cena volte, e dê a volta por cima...



Brigadeiro Matafrakuxz

Label: Matarroa

Data: 19/08/2004

Hipflickz- A primeira pergunta, que acredito que ja muitos gostariam de saber, porque Brigadeiro Matafrakuxz?

Brigadeiro Matafrakuxz - Foi o nome que me ocorreu quando decidi escolher um nome em português ao invés do outro que tinha na língua de shakespeare. Estava a escrever uma letra de apresentação e lançamento da minha carreira solo, e quando chegou a altura de dizer o nome, foi esse que me ocorreu.


Hf- Além de Brigadeiro, tens outros pseudonimos tais como Ikonoklasta e Nkwa NKobanza, aonde surge a ideia dos outros nomes?

B M - Na altura que escolhi Brigadeiro Matafrakuxz era um mc com rimas fundamentalmente de combate, mas não tardou muito a sentir-me limitado pelo nome, quando a temática das músicas era mais séria, mais introspectiva. Achei que não casaria muito bem o tema do Sentença à Nascença que abordei de uma forma melancólica com um nome tão agressivo como Matafrakuxz. E daí saíu a idéia de uma personalidade para cada tipo de abordagem. Assim o Matafrakuxz faz o que sempre fez, Nkwa Kobanza é a personagem mais introspectiva, 1000iSegundo o contador de histórias e estórietas e Ikonoklasta é o nome que engloba todos os outros, se tivesse que escolher um só que resume todos os outros, seria Ikonoklasta. Também porque não me agrada a idéia de ficar preso a um nome, já basta o de registo.


Hf- Quando começa a sua paixão pelo hip hop?

B M- Em 1994.


Hf- -Foste membro do projecto Abxtrato? Gostarias de explicar aos nossos leitores, sobre este projecto?

B M- Gostaria sim. NUNCA fiz parte dos Abxtrato. Fiz parte dos Annonymaz, mas saí do grupo na altura em que o Digga foi indexado definitivamente como membro permanente. Já não participei na 3ª música que o grupo lançou, porque aí já tinha optado pela via solo. Pouco depois bazei do país. Quando regressei, já encontrei os Abxtrato formados e com várias músicas gravadas, e passavamos algumas tardes todos juntos na cave do NK, onde se faziam os sons. Mas daí a ter pertencido ao grupo ainda vai um saltinho e nunca aconteceu (se prestares atenção ao meu primeiro som oficial "O Regresso do Soldado" eu digo: "...Brigadeiro Matafrakuxz E Abxtrato..." como duas entidades separadas portanto).


Hf- - Fale-nos do Conjunto Ngonguenha. Quando e como o grupo surgiu?

B M- O Conjunto Ngonguenha foi talvez a melhor coisa que me aconteceu na minha "carreira", por todas razões e nenhuma. Aconteceu tão naturalmente que mal demos conta que estavamos no processo de criação de algo que veio a ter a dimensão da Ngonguenhação. Surgiu de uma conversa entre 4 amigos (L, Mayanda, Conductor e eu) via net, e sabendo que haveríamos de estar os 4 no mesmo sítio durante pouco mais de um mês (junho de 2002), combinámos gravar um som ou dois, mas depois as idéias começaram a suceder-se em catadupa e chegámos a conclusão que deveríamos gravar um álbum. Visto as coisas terem encaixado e ter havido um empenho equitativo e profundo por parte de nós os 4 (o que raramente acontece não é? Há sempre quem esteja mais empenhado e quem faça um projecto morrer por falta dele) o Conductor dedicou-se ao máximo às bases (bitis), e nós, os restantes, às letras, e tudo encaixou perfeitamente, porque quando nos encontramos em Portugal, foi só mesmo gravar. Foi um processo muito bonito do qual guardo as melhores recordações.



Hf- Eras um colaborador activo do site dos Provisorios. O site parece ter morrido, que foi que aconteceu com o projecto?

B M- Isso terás de perguntar ao criador e cabeça do sítio, o Mário Pinho.


Hf- - Quem conhece o Brigadeiro, sabe o poder lirico que possuis para vertente dos disses. O circuito angolano tem sido constantemente bombardeado por trocas de disses entre ti e o Raf Tag, gostarias de explicar ao pessoal aonde tudo comecou?

B M-Eu vou dar o meu ponto de vista, mas logicamente posso estar enganado quanto ao momento exacto em que tudo começou. O Raf queria conhecer-me, andava a dar a dika ao Mck para proporcionar a apresentação. No dia que isso aconteceu (sem intervenção do K ao fim), acho que ele não ficou um bocado desiludido com a forma como lidei com ele. A situação em que isso aconteceu também foi um pouco constrangedora e um bocado deslocada. Foi no dia depois do ano novo, eu estava a realizar um trabalho de voluntariado (recolha de lixo) ao longo da costa habitada da ilha do Mussulo, e ele apareceu com bwé de avilos dele, e apresentou-se, seguindo logo com uma observação meio desdenhosa do trabalho que eu estava a fazer. Isso foi o suficiente para me deixar uma má impressão dele e fui um pouco frio a lidar com ele, a responder-lhe com frases curtas. Acho que tudo começou a borbulhar aí. Mas a gasolina da fogueira foi mesmo a crítica que fiz ao EP dele com o Samurai (ISHING), ele não gostou muito e apartir daí começou a atacar-me. Fez uns dois ou três sons dedicados à minha pessoa, e o meu nome tava sempre na boca dele, até ouvi dizer que ele iria fazer uma cena do estilo que fez a um outro grupo com quem teve altercações....tipo um álbum com 11 faixas e sempre o mesmo beat e todas dedicadas ao grupo, não me recordo bem do nome... UNOCZAR acho eu. Eu hesitei, mas acabei por decidir fazer a RAFeira TAGarela numa desportiva, a vêr se ainda tinha as minhas habilidades em dia, e também porque o Raf é considerado por muitos como o "melhor" dos rompimentos, assim fiz-lhe um pouco de concorrência e dei-lhe um bocado de corda também para ele poder falar de mim durante mais alguns anos. Mas na verdade, eu acho o Raf um desperdício de talento, eu acho que ele escreve fixe e tudo, mas as cenas que ele tem metido cá fora metem-me um coxe de pena. Respeito cada pessoa e a vertente que escolhem, mas o Raf idolatra o pessoal que ele tenta re-fabricar (Necro e o caraças), e perde alguns pontos na originalidade, afinal é o que a maioria faz... uns reconstroiem a versão angolana dos Jay-z, Nelly, Chingy e essas merdas, outros Dead Prez e Public Enemy e ele Necro e outros que tais. Se ele dedicasse mais tempo a conhecer-se e a fazer-se conhecer de certeza que deixaria de mesquinhices e de responder a disses de gajos que nunca ninguém sequer ouviu falar.


Hf- Tens participado em espetaculos ai?

B M- Muito raramente. Um por ano se tanto


Hf- Como encaras o hip hop tuga? É de fácil acesso, para musicos africanos?

B M- Não. De todo não. Basta analisar pelos álbuns de africanos que residem lá, e que raramente sequer mencionam África. Estão completamente fechados na cena deles, americana e francesa, tudo o resto é medíocre ou podre. É por isso que pouco ou nada evoluem. A evolução para eles é estarem cada vez mais próximo em nível de produções aos americanos e tal como em Angola (aliás muito pior) 90% dos mc's tão a querer imitar os seus artistas estrangeiros favoritos, e falam de realidades que não vivem. Alguns álbuns africanos têm referências positivas dentro daqueles que fazem hip hop mas essas referências nunca abrangem a COMUNIDADE, os ouvintes, os consumidores.


Hf- - Sugiram rumores que havia friccoes, entre ti e VRZ. Meses depois sai o disco do Conjunto Ngonguenha, pela Matarroa, label de VRZ. Tera tudo passado apenas de um mau intendido?

B M- A label não tem nada a ver. Eu podia não me dar bem com alguns membros da editora e mesmo assim lançar pela Matarroa. Houve de facto uma fase menos boa na minha relacção com o VRZ, mas são águas passadas, o tempo cura o maior dos males. Talvez por tê-lo perdoado não vá nunca receber o meu EP que está gravado desde 2001 eheh.


Hf- Lancaste a solo single Ola ignorancia, e Eu kontra o Mundo,estas a preparar algo mais serio serio??

B M- Não para já. Não me comecei a dedicar ainda a isso.


Hf- -O que e' que os apreciadores das musicas do Brigadeiro podem esperar para 2005?

B M- Não sei. Acho que o álbum não está ainda para breve, mas vou continuar a participar nas cenas dos outros, tenho vários convites de pessoas que também admiro e vou continuar ocupado a escrever e a fazer música. Não sei também se será este ano, mas o XEG convidou-me para gravar um álbum, vai depender de como as coisas se vão enquadrar, os nossos tempos, as ideias, as bases (bitis).



Hf- Qual os artistas que gostarias de algum dia colaborar?

B M- Não me ocorre de momento. Neste momento trabalho com quem conheço, de quem gosto e com quem me identifico.


Hf- Queres deixar alguma ultima dica?comentario?shouts?

B M- A dika de sempre: é bom termos influências, mas mantenhamo-las isso... a nossa realidade não é igual a de nenhum dos nossos ídolos, cada país, cada região e as vezes mesmo cada aldeia têm as suas peculiaridades e singularidades, vamos explorar as nossas e sermos NÓS, não forçando a originalidade, mas sendo simplesmente NÓS!


Comments
1 Comments